Como saber qual o meu risco de desenvolver cárie dentária?

Avaliar o risco de um paciente desenvolver cárie é uma componente vital do tratamento médico-dentário preventivo.

Múltiplos fatores e indicadores de risco têm sido propostos como alvos na avaliação do risco de doenças futuras.

A avaliação do risco de cárie determina a probabilidade de incidência de cárie (ou seja, número de novas cavidades ou lesões incipientes) num determinado período. 2 Os fatores de risco para a cárie dentária são os fatores que causaram ou contribuíram para a doença, ou irão contribuir para sua futura manifestação. 4

Fatores de risco de cárie são todos aqueles que contribuem para o nível de risco de o paciente desenvolver novas lesões de cárie no futuro ou de progressão de lesões existentes. O nível de risco de cárie dentária pode ser avaliado analisando e integrando vários fatores causais.

Embora a prevalência de cárie dentária tenha vindo a diminuir, poderia alcançar-se um benefício considerável se os indivíduos em alto risco pudessem ser identificados antes do desenvolvimento das lesões de cárie.

A cárie dentária tem uma etiologia multifatorial na qual há uma interação entre vários fatores principais: o hospedeiro (saliva e dentes), a microflora (placa bacteriana) e o substrato (dieta) e um quarto fator: o tempo.

Não existe um teste único que tenha em consideração todos esses fatores e possa prever com precisão a suscetibilidade de um indivíduo à cárie.

A determinação da atividade de cárie pode ser feita numa única consulta e envolve a avaliação subjetiva da aparência e propriedades físicas das superfícies dentárias, enquanto considera outros fatores de risco que podem estar presentes ou seguindo as características da lesão ao longo do tempo. 2

A avaliação do risco ocorre em duas fases: a primeira é determinar indicadores específicos da doença, fatores de risco e fatores de proteção de cada paciente. A segunda etapa é determinar o nível de risco que a soma desses fatores indica. Fatores patológicos e de proteção específicos para cárie dentária contribuem para determinar o equilíbrio entre progressão, interrupção ou reversão da doença. 4

O tratamento moderno da cárie também se foca na deteção de lesões incipientes (iniciais) precoces e na capacidade do médico de diagnosticar se essas lesões estão ativas ou não. Este diagnóstico deve ser um dos fatores orientadores para a avaliação do risco de cárie e decisões de manuseamento.

Uma lesão cariosa ativa progride com o tempo e requer tratamento (remineralização ou restauração).

Uma lesão inativa pode ser visível clínica ou radiologicamente, mas não irá progredir com o tempo. Lesões remineralizadas não requerem intervenção, uma vez que não representam doença ativa, a menos que as lesões sejam tão avançadas que interfiram na função ou estética. 2

Na maioria dos pacientes, a cárie é um distúrbio crónico, portanto, há uma forte probabilidade de os pacientes com lesões ativas desenvolverem novas lesões. Pacientes que não apresentam doença ativa ou sinais clínicos de cárie não têm necessariamente baixo risco de desenvolver a doença. Portanto, uma avaliação do comportamento do paciente, estilo de vida, hábitos de higiene oral e hábitos alimentares devem informar o processo de tomada de decisão. 2

Os fatores de risco incluem experiência passada de cárie (lesões de cárie iniciais e defeitos de cárie estabelecidos, cárie secundária e atividade de cárie atual), exposição a flúor, nível de placa bacteriana presente, dieta, atividade bacteriana e salivar, histórico médico geral e fatores sociais e comportamentais. 1,2,3

Uma avaliação de risco de cárie também deve considerar fatores que possam comprometer a manutenção de uma boa higiene oral (por exemplo, dentição apinhada, fissuras profundas, margens de restauração defeituosas ou presença de aparelhos orais). 2

Bactérias e higiene oral

A cárie é uma doença microbiana em que os agentes etiológicos são os constituintes normais da flora oral que causam problemas quando a sua patogenicidade e proporções mudam em resposta às condições ambientais.

Microrganismos

Os testes salivares bacterianos disponíveis podem ser usados ​​para determinar bactérias cariogénicas na cavidade oral 2

Placa bacteriana

A maioria dos pacientes não remove a placa bacteriana com eficácia. Como a placa é um dos principais fatores etiológicos da cárie, é importante estimar o número de superfícies afetadas, a quantidade de placa acumulada, a idade da placa e se a sua presença está associada a lesões cariosas naqueles mesmos locais. 2

Saliva

As complicações orais resultado da hipofunção das glândulas salivares incluem sensações orais alteradas, disfunção do paladar, secura da mucosa oral resultando em infeções e desgaste dos dentes por abrasão. 2 Descobriu-se que uma taxa de fluxo salivar cronicamente baixa é um dos indicadores salivares mais fortes para um risco aumentado de desenvolver cárie. 2

Dieta

A exposição ao açúcar é um fator etiológico importante no desenvolvimento de cárie. Devido ao amplo uso de flúor e o seu efeito na redução da incidência de cárie, é difícil mostrar uma forte associação positiva e nítida entre o consumo de açúcar e desenvolvimento de cárie; se um paciente consome muito açúcar, mas ao mesmo tempo usa muito flúor, os dentes podem não ficar tão danificados como seria de esperar se não houvesse a aplicação de flúor.

Outras considerações dietéticas incluem a retenção dos alimentos, a presença de fatores de proteção nos alimentos (cálcio, fosfato, flúor) e o tipo de hidratos de carbono ingeridos. Embora o açúcar na forma líquida (por exemplo, refrigerantes) seja menos cariogénico do que o açúcar na forma sólida, o consumo excessivo e frequente de bebidas açucaradas continua a ser um importante fator de risco.

Exposição ao flúor

O uso generalizado de flúor reduz drasticamente a prevalência de cárie e a taxa de progressão das lesões cariosas. O seu uso, que pode ser considerado um dos fatores de proteção mais importantes na avaliação do risco de cárie, permite estratégias mais conservadoras para a prevenção e tratamento da cárie.

Devem ser tidas em consideração todas as fontes de flúor às quais o paciente está exposto – água potável fluoretada, alimentos e bebidas, produtos domésticos de aplicação tópica de flúor e exposições profissionais periódicas ao flúor.

O uso de flúor deve ser determinado para cada paciente com base em sua idade, habilidades físicas, consciência e atitude em relação à saúde.  2

Um paciente que usa um dentifrício com flúor uma vez por dia pode ser considerado como tendo uma exposição adequada ao flúor se for classificado como de baixo risco e não apresentar evidências de atividade de cárie. Se surgiram novas lesões ou se as lesões existentes progrediram, a mesma exposição do paciente ao flúor é considerada inadequada.

Experiência anterior de cárie

Estudos epidemiológicos mostraram uma forte correlação positiva entre a experiência anterior de cárie e o desenvolvimento futuro de cárie. Este indicador de risco de cárie fornece a maior capacidade preditiva.

A presença de cárie na mãe aumenta o risco de cárie do seu filho.

A prevalência de cárie em dentes decíduos também pode ajudar a “prever” cáries futuras em dentes permanentes. 2

Fatores demográficos e médicos

A cárie geralmente é mais prevalente em grupos socioeconómicos mais baixos. Variáveis ​​sociais, como a educação e ocupação do paciente, também devem ser tidas em conta.

Certos fármacos reduzem o fluxo salivar e podem afetar o risco de cárie. Doenças como a Síndrome de Sjögren e diabetes não controlada, estão relacionadas com diminuição do fluxo salivar, e podem aumentar o risco.

Deficiências mentais ou físicas que afetam a higiene oral regular ou requerem uma dieta rica em hidratos de carbono também podem afetar o risco.

Além disso, defeitos de esmalte, como hipoplasia, têm obviamente uma correlação evidente. Por último, o uso regular por longos períodos de tempo de medicamentos que contenham glicose, frutose ou sacarose (tipos de açúcar) também pode contribuir para o risco de cárie, especialmente em crianças. 2

A avaliação de todos os fatores de risco não só permite uma avaliação mais precisa do risco de desenvolver uma doença, como também identifica os fatores etiológicos responsáveis para a doença em um determinado paciente.

Esta abordagem incentiva estratégias desenvolvidas especificamente para o paciente. Portanto, a avaliação do risco de cárie pode ser útil na gestão do tratamento clínico da cárie, ajudando os profissionais a avaliar o grau de risco do paciente de desenvolver cárie para determinar a intensidade do tratamento e a periocidade de consultas. 2

1.TINANOFF, Norman. Dental caries risk assessment and prevention. Dental Clinics of North America, 1995, 39.4: 709-719.

2. FONTANA, Margherita; ZERO, Domenick T. Assessing patients’ caries risk. The Journal of the American Dental Association, 2006, 137.9: 1231-1239.

3. REICH, E.; LUSSI, A.; NEWBRUN, E. Caries‐risk assessment. International dental journal, 1999, 49.1: 15-26.

4. FEATHERSTONE, John DB, et al. Caries risk assessment in practice for age 6 through adult. CDA, 2007, 35.10: 703.

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